A tarifa dos sistemas de transporte coletivo por ônibus sempre foi rotulada de uma forma simpática de Tarifa Social, pois entendia-se que com o valor praticado se atingiria a imensa maioria da população das cidades.
O transporte coletivo por ônibus teve o seu início nas décadas de 1940 e 1950 e o seu apogeu no final dos anos 1980. No final dos anos 1990, após o Plano Real, o número de passageiros transportados foi caindo ano a ano. Os motivos da diminuição do número de passageiros são diversos, mas os principais são: popularização do automóvel, falta de investimento em infraestrutura viária e aumento das gratuidades.
A “farra” do aumento das gratuidades no transporte coletivo, patrocinada pelos prefeitos e vereadores nos últimos 40 anos, é sem sombra de dúvidas o principal elemento que torna as tarifas dos transportes coletivos injustas socialmente.
Nas principais capitais brasileiras, a média das gratuidades fica em torno de 17%. Porto Alegre conseguiu superar em longe este número. Temos hoje na capital dos gaúchos 36% de gratuidades no transporte coletivo. Caso todos os usuários do transporte coletivo pagassem a passagem em Porto Alegre, a tarifa seria menos de R$ 2,90.
Fazendo uma discriminação de todas as categorias de passageiros que circulam nos coletivos, veremos que o vale-transporte tem uma participação de 38%, escolar 6%, pagantes (dinheiro) 20% e gratuidades 36%.
Destes, o único que não tem desconto ou algum tipo de cobertura tarifária é o passageiro pagante (dinheiro). O passageiro pagante é aquele que não tem carteira assinada, caso contrário teria o vale-transporte, e trabalha informalmente.
O IBGE divulgou uma pesquisa no final de 2017 em que foi constatado que 50% dos trabalhadores brasileiros ganham abaixo do salário mínimo, ou seja, são trabalhadores do mercado informal.
Diante do exposto, é muito fácil concluir que a camada social mais desassistida da população, quanto a educação, saúde e segurança, é ao mesmo tempo a categoria que subsidia o transporte coletivo para todas as outras categorias.
Antonio Augusto Lovatto – Engenheiro, pós-graduado em Sistemas de Transportes
Fonte: Zero Hora