A Organização Mundial da Saúde e o SUS alertam que os espaços de maior risco para contrair a covid-19 são os hospitais e o transporte público.
Acompanhando diariamente os boletins estatísticos dos principais hospitais de Porto Alegre e utilizando como referência o Hospital de Clínicas, verifica-se que o número de funcionários do Clínicas, infectados pelo coronavírus nos primeiros 15 dias da pandemia, chegou a 30. De lá para cá, passaram-se mais de 40 dias, e o hospital apresentou mais 18 funcionários infectados. O que fez com que a instituição achatasse a curva de contágio? A resposta parece óbvia. Foram mudanças nos protocolos de segurança no trato com pacientes portadores da covid-19. Ou seja, investiu- se fortemente em prevenção.
Por outro lado, passados quase 60 dias do início da pandemia, o transporte coletivo da Capital já transportou mais de 20 milhões de passageiros, e não há nenhum registro de motorista, cobrador ou fiscal que foram afastados ou muito menos internados pela covid-19.
O transporte público chegou a este resultado porque assim como o Hospital de Clínicas, investiu em prevenção, e seguiu à risca as orientações da vigilância sanitária.
A higienização do transporte coletivo passou a ser realizada com uma frequência maior e com os mesmos produtos químicos utilizados na limpeza hospitalar. A obrigatoriedade no uso de máscara, janelas abertas, 80% das transações sem dinheiro e muita comunicação alertando como ocorre o contágio, estão contribuindo para que o ponteiro permaneça no zero casos.
Já algumas pesquisas recentes indicam que grande parte das contaminações ocorre dentro de casa, devido principalmente ao relaxamento nas etiquetas de prevenção. O governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, apresentou recentemente uma pesquisa onde 66% das infecções ocorriam em casa, 18 % em asilos, 9% dirigindo o seu veículo, 4% em transporte público, e 2% em táxi/Uber.
Não podemos deixar de considerar que o metrô da cidade de Nova Iorque é subterrâneo e transporta 6 milhões de passageiros por dia, sem pandemia. Com a pandemia, Nova Iorque aumentou em mais de 70% as viagens de ônibus urbano devido ao esvaziamento do sistema de metrô.
Já no Rio Grande do Sul, até o momento, somente asilos e frigoríficos foram alvos de surto do vírus, lugares que tem mais semelhança com os domicílios do que com o transporte público.
Todas essas informações levam a crer que não existe um “safe place”. Na verdade, só existe uma segurança, nós mesmos. Aliás, boa parte destes protocolos de segurança existe há mais de 700 anos e surgiu em Veneza, no surto da peste negra ou bubônica.
Antônio Augusto Lovatto – engenheiro de Transporte