Comparação entre janeiro e setembro de 2016 e igual período deste ano aponta queda no crime, segundo Fórum Transporte Seguro.
Andar de ônibus faz parte do cotidiano dos porto-alegrenses que, muitas vezes, precisam enfrentar o medo da violência para se deslocar pela cidade.
No entanto, dados do Fórum Transporte Seguro apontam que houve queda nos assaltos em ônibus na Capital ao longo dos últimos anos: entre janeiro e setembro de 2016 foram 743 casos, contra 39 ocorrências no mesmo período deste ano, uma redução de 95%. No mesmo período do ano passado, haviam sido registrados 61 casos.
Para as forças de segurança, empresas de ônibus e entidades da área, a queda decorre de diferentes fatores, como o maior policiamento, o incentivo ao uso do Cartão Tri, que diminui a circulação de dinheiro nos coletivos, e também a realização de palestras para orientar funcionários.
Os dados foram divulgados pelo Fórum Transporte Seguro, criado em 2008 na tentativa de promover mais segurança nas viagens de ônibus e lotação na Capital.
O grupo reúne integrantes da Polícia Civil, Brigada Militar (BM), Guarda Municipal, EPTC e a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP).
Durante as reuniões, uma força-tarefa foi criada por parte da Polícia Civil, em 2016, com ações de fiscalização e monitoramento mais efetivas que, posteriormente, virou uma delegacia.
Estratégia
Para o delegado Daniel Ribeiro, titular da Delegacia de Polícia Especializada de Repressão a Roubos em Transporte Coletivo (DRTC), a integração entre órgãos de segurança e empresas e entidades de transporte foi fundamental para a redução dos números e para que, em 2019, fosse inaugurada a DRTC.
– Começou como uma força-tarefa integrada em 2016 e, posteriormente, virou uma delegacia especializada, que inauguramos em 2019. Desde então, o serviço é mais direcionado, deixa de ser apenas uma força-tarefa com ações e passa a ter recursos próprios, direcionados – conta.
Na avaliação da presidente da ATP Tula Vardaramatos, a criação da delegacia foi um “passo muito importante” para a obtenção dos números vistos nos nove primeiros meses deste ano.
– A delegacia especializada foi criada a partir do fórum. Desde então, as ações se intensificaram ainda mais – conta Tula.
Já em 2017, um ano após a criação da força-tarefa, o número de assaltos caiu para 615. No ano seguinte, em 2018, baixou ainda mais, quando foram registradas 400 ocorrências nos nove primeiros meses.
Outro ponto destacado por Tula é o incentivo ao uso do Cartão Tri como forma de pagamento das passagens, o que pode estar atrelado à queda das ocorrências.
Esse também é um dos fatores citados pelo motorista da Carris Amo Borges, 43 anos, que trabalha há nove anos na condução de coletivos na Capital – antes, ele também havia atuado como cobrador. Borges relata já ter sido assaltado três vezes durante o trabalho.
– Costumavam esperar o ônibus ficar mais vazio, para roubar o dinheiro das passagens. Aconteceu três vezes, em que fui abordado com faca. De uns anos para cá, diminuiu o dinheiro dentro do ônibus, isso contribuiu para a queda. Hoje em dia, o que a gente vê mais é que o assaltante está atrás do passageiro, principalmente aquele que está desatento – avalia Borges.
Policiamento
Comandante do Comando de Policiamento da Capital (CPC), o coronel Luciano Moritz ressalta o trabalho das equipes da Brigada Militar junto às paradas e coletivos.
– São feitas diversas ações, que estão atreladas à rápida resposta dos PMs quando um potencial suspeito é detectado em determinado local. Todos os batalhões de Porto Alegre realizam operações diutumamente, para promover a tranquilidade dos usuários do transporte coletivo – afirma.
APESAR DA QUEDA, USUÁRIOS TÊM MEDO
O DG circulou, na tarde de ontem, pelo Terminal Triângulo, um dos mais movimentados da Capital, e conversou com passageiros.
Apesar dos números, usuários do transporte coletivo relatam receio de assalto e citam cuidados que tomam para evitar roubos.
Uma usuária de 64 anos, que preferiu não se identificar, conta que já foi furtada dentro do coletivo que leva até o Jardim ltu-Sabará, há cerca de dois anos. Ela afirma que o crime teria sido cometido pela Gangue das Gordas, grupo que ficou conhecido por cometer furtos em Porto Alegre e cidades próximas.
– Perto da minha parada, eu fui para a porta do ônibus e uma mulher parou na minha frente, me trancando. Veio mais duas, uma em cada lado meu. Eu achei muito estranho na hora, mas o ônibus estava lotado de gente, não dava para ver. Elas rasgaram minha bolsa e levaram de tudo. Eu vi que um homem ficou falando com o cobrador e o motorista, distraindo, ele estava junto com elas – lembra.
Precaução
Para evitar roubos, Fernanda Soares, 39, conta os cuidados que toma ao embarcar. Ela afirma que usa o transporte coletivo todos os dias, há mais de 20 anos, e nunca foi assaltada.
– Nunca presenciei, mas sei de gente que já foi assaltada. Eu sinto mais medo dentro do ônibus do que nas paradas, porque aí tem mais gente circulando. O voltar para casa à noite é o que mais dá medo. Entro com o celular guardado, junto ao corpo, a bolsa à vista.
Fonte: Diário Gaúcho