Mesmo com recuperação no ano passado, desempenho do setor continua 32,6% abaixo do patamar pré-pandemia, segundo Anuário NTU; crise dificulta investimentos e retomada.
Após perdas expressivas no número de passageiros transportados pelos ônibus urbanos, durante a pandemia, a demanda de passageiros equivalentes (pagantes) apresentou, em 2021, uma recuperação de 37,8%, em relação ao ano anterior. Entretanto, comparativamente com o cenário anterior à pandemia (2019), a queda registrada ainda é persistente e expressiva, da ordem de 32,6%. Isso equivale a uma redução de 10,8 milhões de viagens realizadas por passageiros pagantes por dia, em todo o país. Os dados fazem parte do Anuário NTU 2021-2022. O levantamento, feito pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU, registra o desempenho operacional do setor de transporte coletivo urbano por ônibus no Brasil, há quase 30 anos.
O estudo é elaborado com base em 11 indicadores e os dados são disponibilizados pelas entidades filiadas à NTU, que reúne as empresas operadoras dos nove grandes sistemas do país, pesquisados nessa série histórica: Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Juntos, os sistemas de transporte dessas cidades respondem por mais de 35% da frota nacional e da quantidade de viagens realizadas, em todas as cidades brasileiras atendidas por sistemas organizados de transporte público por ônibus.
A análise da demanda se baseia na comparação para os meses de abril e outubro de cada ano. O mês de abril de 2021 registrou forte recuperação, de 119,5%, em relação ao ano anterior. Foi nesse mês, em 2020, o momento no qual foram atingidos os maiores índices de isolamento social, com grave impacto na quantidade de passageiros transportados nas cidades brasileiras. Já no mês de outubro de 2021, houve uma pequena redução de 2,1%, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Os dados podem indicar um cenário de estabilização do nível de demanda, em patamar próximo a 70% dos níveis de 2019. Monitoramento realizado pela NTU, sobre impactos da pandemia, mostra que, de novembro de 2021 a abril de 2022, os níveis mensais de demanda registrados oscilaram entre 66,8% e 71,3%, em relação à situação do período da pré-pandemia. Não há indicação, até o momento, de que essa perda de passageiros será totalmente revertida, indicando a possibilidade de encolhimento estrutural do setor.
Convertidos em números absolutos, os dados indicam que, antes da pandemia, em 2019, eram realizadas 33,2 milhões de viagens por passageiros pagantes/dia no país, número que caiu para 22,4 milhões em 2021 (diminuição de 32,6%, indicada no Anuário).
Quanto aos passageiros equivalentes transportados ou viagens realizadas por veículo, com exceção do ano 2020 (com o maior impacto, resultante da pandemia), em 2021, o indicador registrou o menor índice de toda a série histórica: apenas 251 passageiros transportados diariamente, em média, por veículo tendo em conta a média dos meses avaliados. De 2020 para 2021, houve um acréscimo de 50,5%, embora, em relação a 2019, a redução seja ainda alta, de 25,1%.
Por outro lado, o Anuário NTU mostra que a oferta de transporte público por ônibus aumentou 8,5%, em 2021, na comparação com o ano anterior. O nível de oferta tem apresentado melhor recuperação em relação à demanda: já em julho de 2020, pouco mais de quatro meses após o início da pandemia, a oferta do serviço atingiu mais de 70%, da situação observada anteriormente. Em abril de 2022, o nível da oferta subiu para 82,3%, do verificado em 2019. Isso ocorreu porque o setor atendeu às orientações das autoridades sanitárias, em relação à importância de garantir o distanciamento social no interior dos ônibus.
Para Francisco Christovam, presidente-executivo da NTU, “de modo geral, o resultado traçado pelo desempenho operacional do setor impressiona pelo impacto negativo. Segundo ele, os sistemas organizados de transporte público por ônibus urbano, presentes em 2.703 municípios brasileiros, tiveram uma perda acumulada de R$ 27,8 bilhões, do início da pandemia a abril deste ano, segundo revela o levantamento mais recente feito pela Associação, que serviu de base para o Anuário.
O presidente destaca ainda que a redução da produtividade é uma condição estrutural do setor há anos, independentemente do impacto maior causado pela pandemia. A queda acumulada durante toda a série histórica é de 41,5%. Em relação ao ano de 2019, ainda há baixa de 2,5% da produtividade. De acordo com o Anuário, o crescimento de 2021 significa que o setor quase atingiu o nível de produtividade anterior à pandemia. “As consequências são terríveis para a população e para a economia de todo o país. As pessoas têm à disposição delas uma frota com a maior idade média verificada, em quase três décadas”, ressalta Christovam.
Fonte: Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU