O ônibus não é um simples veículo automotor, mas um integrador social que tem a capacidade e flexibilidade de chegar a locais onde não é possível implantar outros modais, como metrô e trem. Aliás, esta é a chamada capilaridade pelos técnicos. O ônibus vai onde o povo está e leva até onde precisa. Da casa para o trabalho, lazer, escola, tratamentos de saúde …
Ocorre que este meio de transporte hoje sofre muitas injustiças. A população tem toda a razão de reclamar quando um serviço não a satisfaz, mas é necessário parar um pouco e procurar entender o que ocorre com o ônibus. Se o trem e o metrô precisam de trilhos adequados, com o ônibus é bem mais simples: uma via minimamente em condições já é um começo, mas isso não ocorre na maior parte do país. Seja em locais com características rurais, cidades em regiões metropolitanas ou grandes capitais, os ônibus ainda quebram em buracos.
Criar espaços preferenciais, sejam faixas, corredores simples ou BRTs ? Bus Rapid Transit (corredores mais sofisticados) não é dar vez para o ônibus nas cidades, mas sim, dar preferência às cerca de 80 milhões de pessoas que se deslocam por dia no Brasil de maneira coletiva e racional, poluindo menos e usando melhor as áreas cada vez mais escassas nas cidades.
Se o ônibus fica preso no trânsito igual todos os outros carros, que atratividade vai ter o transporte coletivo? E é justo tratar da mesma forma 70 pessoas que estão em um único veículo de 13,2 metros que outra que está sozinha em um carro de 4 metros, sentada, com ar-condicionado, ocupando proporcionalmente mais espaço e poluindo mais? Todo o cidadão deve ter seus direitos e bem estar respeitados, mas a preferência tem de ser para o coletivo. Senão as cidades travam mais.
Outra questão é das tarifas. Operar ônibus é caro demais: salários, pneus, peças, combustível… E quanto mais o ônibus fica preso no trânsito, mais cara é a operação. As tarifas hoje não são justas para nenhum dos lados. São caras para o passageiro e não cobrem todos os custos na maior parte dos sistemas. Como melhorar isso? O modelo de cobrir custos somente pelas tarifas é defasado. Em diversas partes do mundo há subsídios sem aumentar gastos e sem tirar dinheiro da saúde, educação, segurança, etc. O segredo disso? O transporte individual financiar o coletivo. É aquela questão de justiça que falamos. A preferência tem de ser para o coletivo, mas não só na rua, nos investimentos também. Dinheiro não é desculpa, afinal, ainda há muitos recursos diretos e indiretos para o transporte individual em políticas e ações que resultam em um estado de imobilidade cada vez maior para o cidadão.
Estaremos em uma situação ideal de cidades quando seus moradores tiverem orgulho de seus ônibus. Mas o caminho é longo.
Adamo Bazani é jornalista, especializado em transportes
Fonte: Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP)